Estudo 2050 Rodovia interestadual passa em meio de fragmentos florestais. © Kashfi Halford

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Um futuro onde pessoas e natureza prosperam é possível?

Estudo mostra que juntos podemos traçar um novo caminho até 2050.

Podemos gerenciar o crescimento econômico, atender à demanda crescente por alimentos, energia e água e ter um progresso ambiental significativo? A resposta curta é “sim”, mas ela vem com diversos “ses”. Nova pesquisa mostra que podemos colocar o mundo em um caminho de sustentabilidade se fizermos mudanças significativas nos próximos 10 anos.

A The Nature Conservancy, juntamente com a Universidade de Minnesota e outras 11 instituições analisaram a viabilidade de avançarmos nos principais objetivos de preservação ao mesmo tempo em que atendemos às demandas de crescimento econômico e da população em 2050. O trabalho de pesquisa, “Uma Visão Global Alcançável para a Preservação e Bem-Estar Humano”, apresenta um teste científico de uma visão do futuro onde comunidades humanas e ecossistemas saudáveis e abundantes coexistem com sucesso.

“Cada vez mais evidências científicas nos mostram que pessoas e natureza compartilham muitos dos mesmos desafios. As análises que fizemos aqui são encorajadoras, uma vez que mostram que também podemos compartilhar o sucesso. Não estamos buscando uma escolha inevitável; crescimento esperado em PIB, população e suas demandas podem ser balanceados com importantes melhorias no clima e natureza”, disse Heather Tallis, coautora do relatório e Diretora de Gestão Global e Cientista Chefe de Estratégia de Inovação na The Nature Conservancy.

“Claro que demandará grandes mudanças em nossa forma de pensar e em como usamos os recursos naturais, mas nosso estudo mostra que é possível com os padrões de consumo e tecnologia esperados”, acrescenta Steve Polasky, coautor e Regents Professor e Fesler-Lampert Professor de Economia Ambiental/Ecologia na Universidade de Minnesota.

O trabalho vai além das análises existentes dos desafios globais que vêm sendo mais específicas de setores, ou que colocam os interesses ambientais e econômicos uns contra os outros. Conforme líderes nos setores de saúde, desenvolvimento e meio-ambiente se unem para agir de forma coletiva, em suporte às estruturas globais como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, eles precisam de análises mais integradas para ajudar a identificar problemas relacionados e acelerar o progresso para resolvê-los.

Até 2050, conforme a população mundial cresce para 10 bilhões, a demanda por recursos naturais atingirá níveis sem precedentes, intensificando os aspectos severos da mudança climática. As principais organizações de desenvolvimento global já estão destacando a poluição do ar e a escassez de água (desafios ambientais) como os maiores perigos à saúde e à prosperidade humana.

Infográfico destacando o crescimento populacional projetado e demandas de recursos em 2050.
Demandas de Recursos até 2030 Infográfico destacando o crescimento populacional projetado e demandas de recursos em 2050. © The Nature Conservancy

O estudo traçou como seria o mundo em 2050 se o desenvolvimento humano progredisse em seu caminho atual ‘usual’ em comparação a um caminho de ‘sustentabilidade’, que demandaria grandes mudanças nos padrões de produção para superar desafios significativos econômicos, sociais e políticos. O caminho de ‘sustentabilidade’ requer diversas mudanças de paradigma, mas demonstra a viabilidade de atender demandas humanas enquanto simultaneamente avançamos em várias importantes metas de preservação.

Infográfico com projeções de impactos ambientais em 2050.
Impactos para 2050 Infográfico com projeções de impactos ambientais em 2050. © The Nature Conservancy

“Nossos resultados mostram que as tecnologias esperadas e a adoção em grande escala de abordagens comuns de preservação podem ter contribuições significativas a vários objetivos econômicos e ambientais”, disse Polasky.  “Proteger a natureza e fornecer água, alimento e energia a um mundo em crescimento não precisa ser uma proposição do tipo "um ou outro.”

Os objetivos ambientais e econômicos analisados no estudo podem ser atingidos ajustando como e onde ocorre a atividade econômica:

•    Clima, Energia e Qualidade do Ar – transformando a produção de energia primariamente de combustíveis fósseis para energia renovável e nuclear; estabelecendo nova infraestrutura de energia em terra já convertida.
•    Na Terra: Alimento, Conservação e Crescimento Urbano – Mudando as plantações em regiões de produção agrícola que melhor atendem as condições de crescimento. Isso diminui o estresse hídrico e reduz a pegada de uso da terra.
•    Na Água: Água Potável, Bacias Hidrográficas e Locais de Pesca Oceânica – A transição energética e os ajustes nas plantações levam a grandes economias de água, reduzindo o estresse hídrico para a agricultura, as pessoas e a biodiversidade. O gerenciamento sustentável da pesca aumenta o estoque pesqueiro.

A pesquisa abrangeu 10 dos ODS e ilustra como o cenário de sustentabilidade poderia ajudar a avançá-los. Outras explorações com modelos globais mais abrangentes e dinâmicos são necessários para tratar o conjunto completo de ODS e considerar o potencial de cruzarmos limites do sistema terrestre que podem ter grandes impactos no desenvolvimento sustentável. Fazer a transição a partir do modelo ‘usual’ reduziria a probabilidade de cruzar esses pontos.

Brian McPeek, Ex-Presidente da The Nature Conservancy, disse “nossa pesquisa baseada na ciência não é um ‘modelo’ prescritivo de onde e como achamos que a preservação deveria ocorrer. Mas ela mostra que um caminho sustentável é, de fato, possível. Os limites do planeta não é o que impede o caminho para um futuro sustentável, e sim nossa vontade e criatividade”.