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Avanços em adaptação e no balanço global são as principais expectativas da segunda semana da COP28

© Fernanda Macedo/TNC

Após os anúncios dos primeiros dias de COP28, as negociações entram em sua reta final, com uma agenda de temas urgentes e que exigem tempo para debate e consenso entre os países, que precisarão avançar nos poucos dias que restam até o fim da conferência.

Hoje, (8/12), saiu mais um rascunho do Global Stocktake (GST), que, na avaliação da The Nature Conservancy (TNC) Brasil, embora traga opções sobre o phase out de combustíveis fósseis, opções de não incluir essa questão ainda estão na mesa e esperamos uma decisão nesta segunda semana de negociações. Até o momento, é mais provável que o texto final inclua uma linguagem não explícita ao termo phase out, mas sim aos compromissos dos países produtores e consumidores de combustíveis fósseis.

Apesar do texto do GST reconhecer os direitos de Povos Indígenas e demais comunidades tradicionais, o documento poderia enfatizar o papel de seus territórios como proteção climática e da biodiversidade e recomendar que países destinem e reconheçam essas áreas como estratégia para ampliar a ambição climática. 

O GST é o documento mais aguardado dessa COP e a grande expectativa é que saia com recomendações para que as novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs na sigla em inglês) estejam alinhadas à meta de manter o aquecimento global em até 1.5ºC e que considerem a Justiça Climática como um dos pilares de implementação.

O GST deve também ressaltar os Planos de Adaptação, incluindo a interface entre biodiversidade e clima. A COP28 é a primeira conferência internacional de clima após o anúncio do Novo Marco Global da Biodiversidade de Kunming-Montreal, e o texto é uma oportunidade para estabelecer uma conexão mais clara entre Natureza e Clima, trazendo para a discussão a relação entre as NDCs e as NBSAPs (sigla em inglês para Estratégias e Planos de Ação Nacionais de Biodiversidade), ponto importante na avaliação dos 10 anos do Acordo de Paris, durante a COP30, em Belém/PA em 2025, demonstrando avanços entre as duas agendas.

É esperada uma agenda de Adaptação robusta como resultado das negociações nesta COP28. Porém, durante a primeira semana de negociações foram poucos os avanços obtidos. Entre as expectativas está a definição dos mecanismos de implementação do Fundo de Adaptação, que até o momento atingiu apenas 56% da meta dos 300 milhões de dólares prometidos pelos países desenvolvidos. Identificar fontes de recursos alternativas complementares pode ser uma forma de acelerar a implementação do Fundo. Entre as alternativas estariam recursos gerados por meio da aplicação de parcela de 5% das receitas do mecanismo de mercado para reduções de emissões nos termos do Artigo 6. Na prática, o Fundo de Adaptação seguirá fortemente dependendo das contribuições dos países doadores.

A Meta Global de Adaptação (GGA), que deverá ser definida ainda nesta COP, permanece num impasse. Durante a primeira semana, os negociadores não conseguiram chegar a um acordo.

Para o Brasil, sair da COP28 com compromissos de Adaptação robustos é um dos principais objetivos do país. Contudo, a demora para que esse tema entre como prioridades das negociações preocupa. É fundamental que os países estejam mais preparados para respostas rápidas em cenários de impactos da crise climática, com avanços em relação à utilização de fundos financeiros e governança para acesso aos recursos.

Hoje, John Verdieck, diretor de política climática internacional de The Nature Conservancy, divulgou a seguinte declaração reagindo ao estado atual das negociações na COP28 em Dubai. “Na primeira semana da COP28 vimos vários comunicados importantes em muitas áreas críticas. No entanto, a questão mais importante de todas – a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis e a transição para um futuro energético sustentável – ainda está por ser resolvida”.

Segundo ele, “as discussões continuam em torno da linguagem a ser escolhida – “phase out” ou “phase down”, “abated” ou “unabated”. As palavras são importantes, mas as ações fazem a diferença. Todos os comunicados e compromissos assumidos desde Paris em 2015 precisam agora ser implementados por países de todo o mundo para manter o compromisso de 1,5ºC”.

Primeira semana

A COP28 começou surpreendendo com o anúncio do Fundo de Perdas e Danos ainda no primeiro dia. Até o momento, as promessas de recursos dos países desenvolvidos chegam a 700 milhões dólares. Embora o acordo sobre o fundo seja histórico e positivo, o aporte inicial ainda é insuficiente. Segundo matéria publicada pelo The Guardian, os 700 milhões de dólares cobrem apenas 0,2% das perdas que os países em desenvolvimento sofrem enfrentando o aquecimento global anualmente. As estimativas do custo anual dos danos variam entre 100 bilhões e 580 bilhões de dólares. Além disso, os povos indígenas e as comunidades tradicionais destacaram que o fundo ainda não define como e se os recursos poderão ser acessados diretamente por eles

Outro tema que ganhou destaque na primeira semana da COP foram os sistemas alimentares e agricultura regenerativa. A presidência da COP28 anunciou que 134 líderes mundiais assinaram uma declaração histórica sobre agricultura, alimentação e ação climática. Com o objetivo de proporcionar apoio financeiro e técnico para ampliar e implementar medidas de adaptação e resiliência nos países para agricultores, pescadores e outros produtores de alimento, esse anúncio se soma aos esforços para ampliar resultados de restauração e conservação da natureza. Nesta segunda semana de Conferência, é esperada uma avaliação dessa declaração em plenária e a expectativa é que o tema seja incorporado nos debates principalmente das NDCs futuras, ou seja, tornar os sistemas alimentares parte dos compromissos climáticos dos países. 

Brasil

O Brasil trouxe para a Conferência uma das maiores delegações desta COP e da história do país. São mais de 1.300 pessoas entre governos, empresas, instituições financeiras, universidades e representantes da sociedade civil. No âmbito do governo Federal, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falaram sobre a criação do Fundo Floresta Tropical para Sempre. Segundo a Ministra, a proposta brasileira não está fechada, mas o objetivo é captar 250 bilhões de dólares de fundos soberanos para financiar a conservação de florestas tropicais em 80 países, para além dos projetos de carbono. Um dos requisitos para acessar os recursos desse fundo seria o de manter taxas de desmatamento decrescentes.

“Esse fundo pode abrir novas portas para a captação de recursos, pois traz a oportunidade de negociar dívidas públicas em troca de compromissos de conservação. O Brasil segue com o objetivo de retomar o protagonismo na agenda ambiental, mas nesta COP, foi na contramão de seu discurso de ambição climática ao anunciar sua entrada na Opep+, merecendo ganhar o prêmio de fóssil do dia”, segundo a Diretora de Política Pública e Relações Governamentais da TNC Brasil, Karen Oliveira.

TNC Brasil

Em meio aos compromissos firmados na COP 28, em Dubai, se destaca o Decreto Executivo assinado pelo governador do Pará, Helder Barbalho, que institui o Programa de Integridade e Desenvolvimento da Pecuária do Pará. Este é o primeiro programa de rastreabilidade individual para bovinos com ênfase ambiental no Brasil, que busca aumentar a transparência na cadeia e combater o desmatamento. A TNC Brasil, que atua no Pará há mais de 20 anos, faz parte do grupo de trabalho que desempenhou papel fundamental na criação do Programa e continuará desempenhando papel fundamental na sua implementação, junto a outras 13 organizações.

Também apoiamos o projeto piloto de concessão de recuperação da vegetação nativa do Pará. Será o primeiro projeto de concessão de restauração no Brasil com um potencial grande de benefícios às comunidades do entorno e ao meio ambiente. O anúncio foi feito no lançamento do Plano de Recuperação da Vegetação Nativa, cuja meta é recuperar 5,6 milhões de hectares no estado até 2030. O primeiro edital do novo modelo será o da Unidade de Recuperação Triunfo do Xingu, uma área desmatada de 10 mil hectares no sudoeste do Pará.

A expectativa do Executivo é de que 2,7 milhões de toneladas de CO2 sejam sequestradas ao longo dos 40 anos de concessão. O investimento previsto é de R$ 220 milhões, com criação de dois mil empregos diretos, receita total estimada em R$ 400 milhões e retorno sobre capital investido em dez anos.

Outra iniciativa apresentada nesta COP foi o avanço do Plano de Bioeconomia do Pará (Planbio). Uma das principais novidades é que um dos eixos apontados no plano – o Inova Sociobio -  vai ser transformado em política pública e virar um subprograma dentro do Planbio, se transformando assim em uma referência que pode dar escala à bioeconomia no estado.

Lançado em 2022, o "Inova Sociobio", desenvolvido pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas), em parceria com a The Nature Conservancy (TNC), programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e Iniciativa Internacional de Clima e Floresta da Noruega (NICFI), já atendeu cerca de 30 comunidades, em seis municípios paraenses (Curralinho, Gurupá, Oeiras do Pará, Salvaterra, Moju e Belterra, com a implantação de seis pontos de inovação em bioeconomia nas regiões do Marajó, Baixo Amazonas e Tocantins. Ao todo 733 pessoas foram qualificadas, 92% dos beneficiários são pessoas pretas e indígenas, sendo a maioria de jovens mulheres