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COP30 e bioeconomia fazem parte do caminho para um futuro climático justo

Por Karen Oliveira, Diretora de Políticas e Clima da TNC Brasil

Um Futuro justo Enfrentar a mudança do clima é também defender direitos humanos, garantir acesso equitativo a oportunidades de trabalho © Erik Lopes

Às vésperas da COP30, que será realizada em Belém, o mundo volta seus olhos para a Amazônia. A maior floresta tropical do planeta não é apenas um patrimônio natural do Brasil, mas um ativo estratégico para a humanidade. Sua biodiversidade, seus rios voadores e sua capacidade de estocar carbono são fundamentais para conter o avanço da crise climática. Proteger esse bioma, portanto, é proteger nosso futuro coletivo.

O desafio central da conferência será destravar novos mecanismos de financiamento climático. A meta coletiva quantificada, estabelecida na última COP, previa US$ 300 bilhões anuais, mas sabemos que o modelo de financiamento não é suficiente. Precisamos ampliar as soluções. Conversão de dívida externa em benefícios ambientais, blended finance que combina capital filantrópico e comercial, e títulos soberanos vinculados à agenda climática, além da participação do setor privado, são alguns caminhos possíveis. O grande desafio é dar escala, sair dos projetos-piloto e alcançar programas de política pública global.

Recentemente, a TNC, em parceria com um grupo de organizações, entregou à presidência da COP30 uma carta que reivindica a criação de um pacto internacional, liderado pelo Brasil, capaz de mobilizar US$ 7 bilhões anuais para a proteção da Amazônia. O cálculo se baseia em estudo do Banco Mundial, que estima em US$ 317 bilhões por ano o valor econômico da floresta em pé. Diante do desmatamento já acumulado e da degradação de mais de 30% da área amazônica brasileira, este montante representa o custo da recuperação do que já perdemos.

Além do financiamento, as metas climáticas nacionais, conhecidas como NDCs, também serão determinantes. Até agora, apenas menos de 60 países apresentaram suas novas contribuições oficiais para reduzir emissões até 2035, de um total de quase 200 nações esperadas em Belém. É fundamental que esse número aumente, pois só assim poderemos calcular o tamanho do esforço global e verificar se ele será suficiente para manter o aquecimento do planeta abaixo de 1,5°C, conforme prevê o Acordo de Paris. O Brasil pode ter um papel estratégico nesse processo, pressionando por compromissos mais ambiciosos e vinculantes.

Mas o debate sobre clima não se resume a números. Justiça climática precisa ser um princípio orientador. Os impactos dos eventos extremos recaem de forma desproporcional sobre as populações mais vulneráveis.

Enfrentar a mudança do clima é também defender direitos humanos, garantir acesso equitativo a oportunidades de trabalho e assegurar que comunidades tradicionais, povos indígenas, mulheres e jovens tenham voz e participação efetiva no processo de transição para uma economia de baixo carbono.

O Brasil pode chegar a Belém com bons exemplos. Nossa matriz energética é uma das mais limpas do mundo e iniciativas de sociobioeconomia na Amazônia mostram que é possível gerar renda mantendo a floresta em pé. Castanha-do-pará, borracha, óleos vegetais, concessões de manejo florestal e programas de restauração oferecem alternativas que conciliam desenvolvimento econômico e preservação ambiental. Este é o melhor cartão de visitas que podemos apresentar ao mundo.

É verdade que convivemos com contradições, como projetos de exploração de petróleo na Margem Equatorial ou a proposta de asfaltamento da BR 319. Qualquer decisão precisa levar em conta a necessidade urgente de transição justa para uma economia de baixo carbono e os compromissos assumidos internacionalmente pelo Brasil, e ser ancorada em critérios claros de transparência, governança e planejamento integrado.

Publicado originalmente em Um Só Planeta
13 de outubro de 2025
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