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Crédito rural como alavanca para uma transição produtiva sustentável no Pará

Agricultura familiar Até 2030, o objetivo é melhorar a gestão territorial e evitar o desmatamento de mais de 1 milhão de hectares de vegetação nativa © Erik Lopes/ TNC Brasil

O crédito rural é hoje o principal instrumento de financiamento para o uso da terra no Brasil e, no Pará, estado com o segundo maior rebanho bovino do país, ele pode ser decisivo para impulsionar uma pecuária mais sustentável e inclusiva.

Segundo estudo em elaboração pela The Nature Conservancy, cuja versão simplificada foi recentemente publicada, embora existam linhas de crédito voltadas à sustentabilidade, como o RenovAgro/ABC+, e até mesmo o PRONAF Bioeconomia e PRONAF Floresta, o volume de recursos efetivamente desembolsado para a transição produtiva sustentável no Pará ainda é muito baixo. Na safra 2024/2025, essas linhas somaram menos de 4% do total de crédito rural no estado, revelando um descompasso entre a urgência da agenda climática e a escala dos investimentos disponíveis para práticas agropecuárias de baixo carbono.

Mais de 90% dos imóveis com pecuária no Pará pertencem a pequenos produtores, mas a maioria enfrenta barreiras significativas para acessar crédito rural, como falta de garantias, documentação irregular e ausência de assistência técnica. A The Nature Conservancy Brasil analisou alguns mecanismos financeiros inovadores para o setor agropecuária no Brasil e identificou três características fundamentais que esses instrumentos podem trazer para viabilizar a transição produtiva sustentável no Estado:

  • Financiamento híbrido: mecanismos que combinam capital público, privado e filantrópico para mitigar riscos e atrair investimentos em regiões e perfis de produtores considerados de alto risco pelo mercado tradicional. Exemplos como o CRA Tabôa e o programa Renova Pasto, apoiado por Rabobank, Agri3 e IDH, mostram como o uso de capital catalítico pode viabilizar operações com forte impacto socioambiental, especialmente em cadeias da sociobiodiversidade e na recuperação de pastagens degradadas.
  • Assistência técnica integrada ao crédito: a inclusão de serviços de ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural) como parte estruturante do mecanismo financeiro é essencial para garantir a adoção de boas práticas, aumentar a produtividade e reduzir inadimplência. Modelos como o CRA Tabôa e o CNA Fiagro demonstram que a assistência técnica contínua, aliada à educação financeira e ao acompanhamento da produção, é um diferencial para o sucesso das operações.
  • Simplificação de processos: a redução da burocracia e a digitalização dos fluxos de crédito são fundamentais para ampliar o acesso de pequenos produtores. Iniciativas como o Conecta Produtor, do CNA Fiagro, e o uso de garantias solidárias no CRA Tabôa mostram como é possível desenhar processos mais ágeis, inclusivos e replicáveis, sem renunciar à segurança jurídica e financeira.

Com a COP30, que está sediada em Belém, o Pará se posiciona como território estratégico para a construção de soluções climáticas de escala. A abordagem de financiamento baseada em paisagem é especialmente relevante nesse contexto, pois permite integrar múltiplos usos da terra e alinhar objetivos econômicos, ambientais e sociais. Para que essa transformação ocorra, é fundamental inovar para além das políticas públicas tradicionais, desenvolvendo mecanismos financeiros adaptados à realidade local. Parcerias multissetoriais, entre governos, setor privado, instituições financeiras e sociedade civil, são o caminho para destravar o acesso ao capital, atrair investimentos e acelerar a transição para uma economia rural de baixo carbono no estado.

Leia o estudo na versão simplificada, abaixo.

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Transformação produtiva na pecuária do Pará

Crédito rural como instrumento de financiamento para transição produtiva sustentável no Estado do Pará

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