Árvore de Angelim Ferro na Floresta Amazônica, em dezembro de 2014.
ANGELIM FERRO AMAZÔNICO Árvore de Angelim Ferro na Floresta Amazônica, em dezembro de 2014. © Gabriel Gabino Moreira/TNC Photo Contest 2019

Artigos e Estudos

Dia da Árvore: Proteger e restaurar floresta é o caminho para a proteção da vida.

Por Rubens Benini - Líder de Florestas e Restauração da TNC na América Latina

“A natureza nos conecta, plante árvores”. Este é o tema da campanha promovida este ano pela The Nature Conservancy (TNC) Brasil em comemoração ao Dia da Árvore, celebrado em 21 de setembro. A campanha convida toda a sociedade a proteger a natureza e sua biodiversidade. O objetivo é contribuir, através do Restaura Brasil, para a restauração florestal em áreas degradadas na Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica.

Esta campanha é uma iniciativa de engajamento da população para apoiar o trabalho que a TNC vem desenvolvendo desde 2001 para recuperar a vegetação nativa e, assim, ajudar a proteger as florestas, as águas, a biodiversidade e levar benéficas transformações sociais para as comunidades rurais. A natureza é fonte de inspiração e de recursos para a humanidade. Porém, tem sido super explorada. Hoje, a diversidade de seres vivos está em declínio, e as nossas terras e águas estão cada vez mais poluídas e sobrecarregadas. 

Não é de hoje que cientistas tem nos mostrado que haveria aumento de fenômenos extremos, riscos pandêmicos e mudanças significativas nos regimes de chuva, ocorrência de incêndio, etc. Isso tem sido notado, especialmente na última década.   A recente divulgação do Relatório especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)  e as consequências das mudanças climáticas reforçam a necessidade da urgência em ações práticas. Se torna emergencial garantir a conservação da natureza e a recuperação dos habitats naturais degradados. Não é à toa que a ONU promulgou essa década (2021 – 2030) como a Década Internacional de Restauração de Ecossistemas.

A harmonia entre as árvores, cores e texturas da floresta.
TOPO DA FLORESTA A harmonia entre as árvores, cores e texturas da floresta. © José Furlan Pissol /TNC Photo Contest 2019

A ciência tem comprovado que conservar e restaurar terras naturais é uma das melhores maneiras de mitigar os efeitos das emissões de carbono e outros gases causadores das alterações climáticas – ao investir nessas soluções, juntamente com políticas para redução de emissões, os governos podem cumprir seus objetivos climáticos e proteger a natureza.

As soluções climáticas baseadas na natureza (conservação, restauração e gestão de terras) podem fornecer mais de um terço da mitigação climática, necessária até 2030 para manter o aquecimento global abaixo de 2ºC, com base em sequestro de CO2da atmosfera. 

Assim, há um caminho a ser percorrido para que consigamos manter a saúde de nosso planeta. Aliás, não atuar com a devida urgência representa custos e riscos elevados, tanto em termos econômicos quanto de saúde. O recente Relatório do Fórum Econômico Mundial mostra que cerca de metade do produto bruto mundial depende alta ou moderadamente da natureza. Ou seja, não investir na conservação de nossos recursos naturais, podem gerar enorme perdas econômicas.

Obviamente não podemos ter sociedades saudáveis ​​e prósperas se não tivermos sistemas naturais e serviços ecossistêmicos íntegros, dos quais a vida depende. Para conseguir isso a longo prazo, precisamos de uma mudança na forma como valorizamos a natureza e os recursos naturais. Especialmente, em um momento em que tanto se discute como “reaquecer” a economia pós-pandemia, é essencial se pensar em novos modelos e iniciativas que valorizem a floresta e os produtos da sócio biodiversidade, como a bioeconomia de produtos florestais, sistemas de produção agroflorestais, agricultura regenerativa, manejo florestal sustentável e fontes renováveis e eficientes de energia. 

Povo Yawalapiti, do Alto Xingu, fazendo um barco de um Jatobá sem derrubar a árvore.
CANOA YAWALAPITI Povo Yawalapiti, do Alto Xingu, fazendo um barco de um Jatobá sem derrubar a árvore. © Olivier Boels/TNC Photo Contest 2021

Em 2020, a The Nature Conservancy, o Paulson Institute e o Cornell Atkinson Center for Sustainability da Universidade de Cornell analisaram intensamente os valores dos investimentos necessários para se ter uma Conservação efetiva: "Financiando a natureza: eliminando a lacuna no financiamento da conservação da diversidade global".

Estimou-se que em 2019 foram gastos entre US$ 124 e US$ 143 bilhões no mundo em atividades que beneficiam a natureza - porém, ainda muito aquém do que é de fato necessário.

Para reverter o declínio da biodiversidade até 2030, o estudo indica a necessidade de investir entre US$722 e US$967 bilhões por ano. Isso significa que a diferença no financiamento necessário para proteger a natureza é cerca de US$824 bilhões por ano.

Pode parecer um valor muito elevado para ser colocado em prática, mas a verdade é que representa menos de 1% do PIB anual global. Corresponde a bem menos do que se destina no mundo em cigarros ou refrigerantes, em um ano! Ademais, é equivocado pensar unicamente como gasto. Financiar a natureza deve ser visto como investimento. Qual o preço de se evitar novas pandemias? Qual o valor de se ter água e climas saudáveis?

Quote

Todos nós temos um papel importante para desempenhar na conservação da natureza. A participação e a cooperação entre todos os setores da sociedade é essencial para se ter êxito nessa necessária missão.

A boa notícia é que é possível sanarmos metade dessa lacuna financeira sem nenhuma nova captação orçamentária. Muito do que precisamos é uma aplicação mais eficiente de fundos já existentes – deslocando o fluxo de capital de comportamentos nocivos e os direcionando para resultados que beneficiem a manutenção e uso racional de recursos naturais. 

Todos nós temos um papel importante para desempenhar na conservação da natureza. A participação e a cooperação entre todos os setores da sociedade é essencial para se ter êxito nessa necessária missão. Se formos capazes de nos unirmos e agirmos, a recompensa vai valer a pena - teremos maior segurança alimentar, hídrica e econômica; clima mais estável; redução do risco de pandemias. Os benefícios que só os recursos naturais podem nos dar. O caminho a se trilhar é conhecido: conservar, proteger e restaurar, na direção de um mundo onde natureza e pessoas prosperem em conjunto.