NEGÓCIOS E CONSERVAÇÃO Carro passando em plantação de soja em Belterra-PA. © Erik Lopes/TNC

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ESG e retorno financeiro: quando mais é mais

Mecanismos de financiamento com governança ambiental e social tem cada vez mais destaque no mercado pós pandemia.

Por Anna Lucia Horta

O surgimento da pandemia de Covid-19 trouxe um efeito colateral que afeta os negócios realizados no mundo todo – e não me refiro aos previsíveis prejuízos amargados com as perdas financeiras observadas desde março de 2020. A cada dia, cresce a atenção dada pelos mercados à relevância da resolução de problemas socioambientais como forma de incrementar o retorno financeiro, além de evitar perdas decorrentes de má gestão de riscos dessa natureza.

A crise atual escancarou a relação estreita entre natureza, sociedade e, consequentemente, o desempenho financeiro dos mercados. Mas, neste ponto, vale uma reflexão. Muito se fala sobre premissas da tomada de decisão de investimentos, envolvendo o equilíbrio de risco e retorno ou, ainda, risco, retorno e impacto, como terceira dimensão. Os fatores socioambientais estão atrelados não só ao terceiro pilar, mas impactam os dois primeiros.

No entanto, o enfrentamento da pandemia mostrou ao mercado que o olhar atento a questões socioambientais influencia todos os investimentos – sejam eles classificados como “de impacto” ou não. Por isso, questões socio ambientais e de governança podem – e devem – estar intrínsecas à etapa de avaliação de riscos. Isso fica explícito na afirmação de Larry Fink em sua mais recente carta anual aos CEOs: “nenhuma questão supera o risco climático na lista de prioridades de nossos clientes. Eles nos perguntam sobre isso quase todos os dias.”

Área protegida em margem de curso de água entre duas propriedades rurais de Lucas do Rio Verde-MT.
AGRICULTURA REGENERATIVA Área protegida em margem de curso de água entre duas propriedades rurais de Lucas do Rio Verde-MT. © © Rui Rezende

Se, em diversas situações de negócios “menos é mais”, no contexto de vinculação de aspectos ESG à decisão de investimentos, é válido desafiar essa máxima e adotar o “mais é mais”. Isso acontece porque a avaliação de riscos socioambientais é válida não somente por filantropia, mas porque também gera retorno financeiro. Como destaca Fink, citando dados da Simfund, Broadridge e GBI, de janeiro a novembro de 2020, US$ 288 bilhões foram injetados em investimentos sustentáveis em todo o mundo.

O montante representa um aumento de 96% em relação ao ano de 2019 inteiro, mas vale ressaltar que ainda é insignificante em relação ao total de investimentos, sinalizando uma grande oportunidade de expansão. Além disso, empresas com melhor perfil ESG estão tendo desempenho acima de seus pares, obtendo, com isso, um “prêmio de sustentabilidade” – impulsionado pela preocupação de investidores “tradicionais” com questões socioambientais.

A verdade é que a natureza é protagonista no nosso planeta e isso, felizmente, estende-se cada vez mais ao mercado financeiro. Acredite quando eu e Fink afirmamos: é possível contribuir com a conservação do meio ambiente e obter retornos financeiros interessantes. E, para saber mais sobre o papel da natureza nas economias globais, recomendo a leitura do estudo Nature Positive Recovery for People, Economy & Climate, elaborado pela Nature4Climate, uma coalizão da qual a @TheNatureConservancy faz parte. O material apresenta princípios para investimentos em trabalhos baseados na natureza e iniciativas para estimular a economia pós Covid-19.