Artigos e Estudos

A Mata Atlântica e as suas águas: um olhar para além da floresta

Por Samuel Barreto

The Mantiqueira Restoration Project Brazil Extrema, MG, Brazil: 08/22/2018: Salto Grande waterfall, the largest fall of the Jaguari River. The river is born in the state of Minas Gerais and when it enters the state of São Paulo it becomes part of the Cantareira reservoir, which supplies the city of São Paulo. © @FelipeFittipaldi

A Mata Atlântica é um dos biomas mais ricos e importantes do Brasil. Seus rios serpenteiam por paisagens exuberantes, alimentam a biodiversidade e sustentam milhões de pessoas nas cidades e no campo. No dia 27 de maio, celebramos o Dia da Mata Atlântica, um convite para refletirmos sobre sua importância e os desafios que a floresta enfrenta. 

Os rios da Mata Atlântica são verdadeiros motores da vida. Eles abastecem comunidades, irrigam plantações, movimentam a economia e mantêm equilibrados os ecossistemas ao seu redor. No contexto social, são fundamentais para o abastecimento de água em grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro. Ambientalmente, suas águas abrigam uma incrível biodiversidade, com espécies ameaçadas que dependem desse ambiente saudável e íntegro para sobreviver. E economicamente, desempenham papel essencial na agricultura, na geração de energia e no turismo, entre outras atividades. 

Além de sua importância funcional, os rios da Mata Atlântica possuem uma beleza singular. Com cachoeiras impressionantes, curvas sinuosas e águas cristalinas em algumas regiões, são refúgios de paz e conexão com a natureza. Muitos desses rios abrigam comunidades ribeirinhas, quilombolas e povos indígenas que vivem em harmonia com o ambiente, praticando atividades sustentáveis e preservando tradições. 

A Mata Atlântica abriga alguns dos rios mais importantes do Brasil, fundamentais para o abastecimento de água, a biodiversidade e a economia. Alguns dos principais são: o Rio Paraná, um dos maiores rios da América do Sul, percorre parte da Mata Atlântica e é essencial para a geração de energia. O Rio São Francisco, embora não esteja inteiramente na Mata Atlântica, em algumas regiões o bioma influencia suas águas. É vital para populações ribeirinhas e tem grande importância histórica e cultural. O Rio Tietê, conhecido por seu papel na história de São Paulo, infelizmente sofre com poluição severa em pelo menos 20% do seu trecho, mas projetos de revitalização buscam recuperar sua qualidade. O Rio Paraíba do Sul, importante para o abastecimento de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, sendo fundamental para a economia, a biodiversidade e a geração de energia. O Rio Doce, entre Minas Gerais e o Espírito Santo destacou-se tragicamente pelo desastre ambiental de 2015, mas continua sendo um dos principais rios para o ecossistema e comunidades locais. O Rio Ribeira de Iguape, localizado entre os estados do Paraná e São Paulo, é um dos rios mais preservados, com trechos de Mata Atlântica ainda intactos e grande diversidade de espécies aquáticas. 

Embora a hidrografia da Mata Atlântica seja muito vasta, os seus rios estão em constante ameaça. A poluição urbana e industrial contamina suas águas, colocando em risco a saúde da população e dos ecossistemas. O desmatamento reduz a capacidade natural de purificação dos rios e contribui para erosões e assoreamentos. Além disso, o uso indiscriminado de recursos hídricos, combinado com os impactos das mudanças climáticas, pode levar a situações de risco hídrico, afetando tanto a população em geral, especialmente as comunidades mais vulneráveis, quanto o meio ambiente e a economia. 

A implementação de políticas públicas para reverter esse processo é fundamental. Passa pela fiscalização, mas também por medidas combinadas com instrumentos econômicos que incentivem a revitalização de bacias hidrográficas. Assim como o papel protagonista da sociedade brasileira em conservar um dos biomas mais ameaçados de extinção do planeta. 

A recuperação e conservação da Mata Atlântica exige um conjunto de ações que envolvem os governos, a iniciativa privada e a sociedade civil. Algumas das principais soluções incluem o investimento em saneamento básico, expandindo redes de tratamento de esgoto, já que a destinação correta dos resíduos sólidos reduz significativamente a contaminação das águas. Mas, também é necessário agir para a recuperação e a conservação das áreas de mananciais das bacias hidrográficas, restaurando ecossistemas, pois a floresta ajudará a evitar ou reduzir a erosão, o assoreamento, filtrar as impurezas antes que cheguem à água e a promover a mitigação e a recuperação da biodiversidade. A transição para uma agricultura sustentável também é fundamental: incentivar práticas que promovam uma transição para a agricultura sustentável produzindo mais e melhor sem comprometer os recursos hídricos.  

O manejo adequado de produtos químicos, considerando o potencial de contaminação do solo, das águas e das pessoas, e o apoio e participação de políticas públicas eficazes se somam a esta lista. Tudo isso, junto com educação e engajamento, que têm o potencial de mobilizar e gerar uma corrente de impacto positivo. 

A Mata Atlântica é um dos biomas mais fascinantes do Brasil, um verdadeiro tesouro natural que abriga uma diversidade impressionante de flora e fauna. Seus rios são artérias vitais que sustentam ecossistemas, abastecem a população e movimentam a economia. No dia 27 de maio, quando celebramos o Dia da Mata Atlântica, é essencial agirmos sobre os desafios do bioma para que possamos manter viva a importância de suas águas, direcionando investimentos e políticas públicas para ações urgentes de conservação. 

Publicado originalmente em Um Só Planeta
xx de maio de 2025
Ver original