A Mata Atlântica e as suas águas: um olhar para além da floresta
Por Samuel Barreto
A Mata Atlântica é um dos biomas mais ricos e importantes do Brasil. Seus rios serpenteiam por paisagens exuberantes, alimentam a biodiversidade e sustentam milhões de pessoas nas cidades e no campo. No dia 27 de maio, celebramos o Dia da Mata Atlântica, um convite para refletirmos sobre sua importância e os desafios que a floresta enfrenta.
Os rios da Mata Atlântica são verdadeiros motores da vida. Eles abastecem comunidades, irrigam plantações, movimentam a economia e mantêm equilibrados os ecossistemas ao seu redor. No contexto social, são fundamentais para o abastecimento de água em grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro. Ambientalmente, suas águas abrigam uma incrível biodiversidade, com espécies ameaçadas que dependem desse ambiente saudável e íntegro para sobreviver. E economicamente, desempenham papel essencial na agricultura, na geração de energia e no turismo, entre outras atividades.
Além de sua importância funcional, os rios da Mata Atlântica possuem uma beleza singular. Com cachoeiras impressionantes, curvas sinuosas e águas cristalinas em algumas regiões, são refúgios de paz e conexão com a natureza. Muitos desses rios abrigam comunidades ribeirinhas, quilombolas e povos indígenas que vivem em harmonia com o ambiente, praticando atividades sustentáveis e preservando tradições.
A Mata Atlântica abriga alguns dos rios mais importantes do Brasil, fundamentais para o abastecimento de água, a biodiversidade e a economia. Alguns dos principais são: o Rio Paraná, um dos maiores rios da América do Sul, percorre parte da Mata Atlântica e é essencial para a geração de energia. O Rio São Francisco, embora não esteja inteiramente na Mata Atlântica, em algumas regiões o bioma influencia suas águas. É vital para populações ribeirinhas e tem grande importância histórica e cultural. O Rio Tietê, conhecido por seu papel na história de São Paulo, infelizmente sofre com poluição severa em pelo menos 20% do seu trecho, mas projetos de revitalização buscam recuperar sua qualidade. O Rio Paraíba do Sul, importante para o abastecimento de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, sendo fundamental para a economia, a biodiversidade e a geração de energia. O Rio Doce, entre Minas Gerais e o Espírito Santo destacou-se tragicamente pelo desastre ambiental de 2015, mas continua sendo um dos principais rios para o ecossistema e comunidades locais. O Rio Ribeira de Iguape, localizado entre os estados do Paraná e São Paulo, é um dos rios mais preservados, com trechos de Mata Atlântica ainda intactos e grande diversidade de espécies aquáticas.
Embora a hidrografia da Mata Atlântica seja muito vasta, os seus rios estão em constante ameaça. A poluição urbana e industrial contamina suas águas, colocando em risco a saúde da população e dos ecossistemas. O desmatamento reduz a capacidade natural de purificação dos rios e contribui para erosões e assoreamentos. Além disso, o uso indiscriminado de recursos hídricos, combinado com os impactos das mudanças climáticas, pode levar a situações de risco hídrico, afetando tanto a população em geral, especialmente as comunidades mais vulneráveis, quanto o meio ambiente e a economia.
A implementação de políticas públicas para reverter esse processo é fundamental. Passa pela fiscalização, mas também por medidas combinadas com instrumentos econômicos que incentivem a revitalização de bacias hidrográficas. Assim como o papel protagonista da sociedade brasileira em conservar um dos biomas mais ameaçados de extinção do planeta.
A recuperação e conservação da Mata Atlântica exige um conjunto de ações que envolvem os governos, a iniciativa privada e a sociedade civil. Algumas das principais soluções incluem o investimento em saneamento básico, expandindo redes de tratamento de esgoto, já que a destinação correta dos resíduos sólidos reduz significativamente a contaminação das águas. Mas, também é necessário agir para a recuperação e a conservação das áreas de mananciais das bacias hidrográficas, restaurando ecossistemas, pois a floresta ajudará a evitar ou reduzir a erosão, o assoreamento, filtrar as impurezas antes que cheguem à água e a promover a mitigação e a recuperação da biodiversidade. A transição para uma agricultura sustentável também é fundamental: incentivar práticas que promovam uma transição para a agricultura sustentável produzindo mais e melhor sem comprometer os recursos hídricos.
O manejo adequado de produtos químicos, considerando o potencial de contaminação do solo, das águas e das pessoas, e o apoio e participação de políticas públicas eficazes se somam a esta lista. Tudo isso, junto com educação e engajamento, que têm o potencial de mobilizar e gerar uma corrente de impacto positivo.
A Mata Atlântica é um dos biomas mais fascinantes do Brasil, um verdadeiro tesouro natural que abriga uma diversidade impressionante de flora e fauna. Seus rios são artérias vitais que sustentam ecossistemas, abastecem a população e movimentam a economia. No dia 27 de maio, quando celebramos o Dia da Mata Atlântica, é essencial agirmos sobre os desafios do bioma para que possamos manter viva a importância de suas águas, direcionando investimentos e políticas públicas para ações urgentes de conservação.
Publicado originalmente em Um Só Planeta
xx de maio de 2025
Ver original