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Como melhoramos a conservação baseada em áreas?

um grupo de flamingos voa sobre um lago ao nascer do sol
Kenyan Sunrise A flamboyance of flamingos flies over a lake in Kenya © Xiangli Zhang/TNC Photo Contest 2021

Na pauta da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CBD) está a discussão sobre as metas ambiciosas para combater a crise na biodiversidade. Uma meta específica, conhecida coloquialmente como “30x30”, propõem a proteção de 30 por cento dos habitats  terrestres e marinhos até 2030[AT1] .  Muitas entidades—incluindo a The Nature Conservancy (TNC)—pedem que as nações também busquem explicitamente proteger pelo menos 30 por cento do sistema de água doce do planeta.  

Atualmente, somente 17 por cento das áreas terrestres e oito por cento das áreas marinhas estão sob alguma tipo de proteção. Em alguns casos, a eficácia de seu status de proteção é duvidosa. Isso quer dizer que novas metas 30x30 representam um compromisso significativo.

Mas como o mundo atingirá esses objetivos nobres e extremamente necessários de maneira econômica e equitativa? Agir como de costume (business as usual) não será suficiente. A TNC, em parceria com a Comissão Mundial de Áreas Protegidas da International Union for Conservation of Nature (IUCN) e Equilibrium Research, produziu um  artigo inicial sobre melhores práticas com financiamento do Departamento para Meio Ambiente, Alimentos e Assuntos Rurais (DEFRA) do Reino Unido, para facilitar o diálogo.

  • foto de mãos separando vagens de sementes verdes

    Melhores práticas para atingir a meta do 30x30

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    Áreas protegidas e outras medidas eficazes de conservação baseada em áreas

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Aprendizados:

Precisamos ser estratégicos sobre o que proteger e como.

As abordagens tradicionais de conservação têm levado à criação de parques magníficos e outras áreas protegidas. Mas a escolha das áreas tem sido ad hoc, de cima pra baixo e eficiente em vez de baseada nos objetivos estratégicos de biodiversidade, dados de qualidade e conservação socialmente inclusiva.

No futuro, os esforços de conservação devem estar focados em grandes áreas que, juntas, sejam ecologicamente representativas de toda a diversidade natural. Eles devem incluir áreas que ofereçam serviços ambientais importantes e estão bem conectadas a corredores que melhoram a resiliência às mudanças climáticas e evitam a criação de ilhas ecológicas. O trabalho de proteger o meio ambiente deve também considerar o valor das áreas que não são manejadas formalmente para a conservação, como as terras Indígenas e de comunidades que podem trazer benefícios diretos e significativos para a vida selvagem e os ecossistemas.

A Great Egret in Brazil performs a mating dance.
Garça-branca-grande, Brasil Uma garça-branca-grande faz uma dança de acasalamento. © Carlos Eduardo Silveira Goulart/TNC Photo Contest 2021

Precisamos de uma gestão de áreas protegidas que funcione.

Sem uma boa gestão, as áreas protegidas são apenas linhas em um papel. Melhorar e monitorar a eficácia da gestão, garantindo apoio e envolvimento locais e financiamento a longo prazo para o gerenciamento são elementos-chave para garantir que a conservação seja permanente.

Nas vastas terras conservadas do Butão, por exemplo, a eficácia da gestão foi prejudicada por recursos limitados e as lacunas no monitoramento e nos dados de pesquisa. A abordagem “Project Finance for Permanence” estabeleceu uma estrutura legal e financeira para subsidiar a gestão a longo prazo. Agora, o modelo está sendo reproduzido em outros países por meio da Enduring Earth partnership.

Precisamos também escolher a estratégia correta de gestão para cada lugar, reduzir as pressões externas sobre as áreas de conservação e trabalhar com os Povos Indígenas e as comunidades locais considerando seu papel como administradores, detentores de conhecimento e beneficiários. Os esforços para proteger e apoiar essas áreas precisam incluir arcabouços legais que confirmam os direitos fundiários locais e a proteção das divisas.

A importância de estratégias de conservação socialmente inclusivas tem sido demonstrada repetidamente no mundo todo. Projetos que incluem Povos Indígenas e comunidades locais em papéis relevantes de tomada de decisão têm notadamente maior sucesso do que aqueles nas quais entidades de fora invalidam o controle local. Atingir as metas do 30x30 só será possível com a ajuda dos Povos Indígenas e comunidades locais, que coletivamente gerenciam uma porção significativa dos habitats terrestres, marinhos e de água doce.

Swafia Shahibu picks propagules from the trees at the mangrove restoration site in Mtangawanda, Lamu.
MTANGAWANDA WOMEN'S ASSOCIATION Swafia Shahibu colhe propágulos de árvores na área de restauração em Mtangawanda, Lamu, Quênia © Sarah Waiswa

Chegou a hora de alavancar novos instrumentos.

As áreas protegidas fazem parte de uma matriz muito maior de ações necessárias para conservar um limiar mínimo de 30 por cento do mundo natural antes do fim da década. Políticas para refrear o comércio de vidas selvagens e a extração de recursos naturais, reduzir a poluição e mitigar as mudanças climáticas aumentam a possibilidade de sucesso.  Além disso, estabelecer estruturas de pagamento que reconhecem os benefícios que as áreas naturais trazem à humanidade­—de fornecimento de água doce ao sequestro de carbono, até a mitigação de desastres naturais como incêndios e furacões—podem gerar novos financiamentos para a conservação e gerenciamento de áreas protegidas.

As metas 30x30 são vitais para o futuro de toda a vida na Terra—inclusive a nossa. Aqueles objetivos são ousados e de uma escala sem precedentes, mas são também alcançáveis por meio de esforços coordenados e colaborativos que vêm das melhores práticas. A TNC está comprometida com 30x30 como nosso arcabouço de proteção no futuro.