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Lideranças debatem retorno do Centro Amazônico de Formação Indígena

O objetivo é reestruturar o Centro Amazônico de Formação Indígena (CAFI) para formar e fortalecer jovens lideranças capazes de promover a etnogestão

Lideranças debatem retorno do Centro Amazônico de Formação Indígena em Brasília
CAFI Lideranças debatem retorno do Centro Amazônico de Formação Indígena. © JULIANA RUSSOMANO

Reunidos durante quatro dias em Brasília, lideranças indígenas da Amazônia e ex-alunos do CAFI, representados pelos  povos Arara (Acre), Bakairi (Mato Grosso), Galibi-Marworno (Amapá), Karaja (Mato Grosso e Tocantins), Krikati (Maranhão), Manchineri (Acre), Munduruku (Pará), Taurepang (Roraima) e Xavante (Mato Grosso), entre outros povos da Amazônia Legal, fizeram uma imersão nos temas que fazem parte da agenda prioritária de suas comunidades e discutiram como o fortalecimento de jovens lideranças pode contribuir com essas agendas.

O encontro foi promovido pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) com apoio da The Nature Conservancy (TNC) Brasil e teve por objetivo de colher subsídios para planejar a retomada do CAFI com a definição de temas prioritários que irão fazer parte da revisão do plano pedagógico, do CAFI,  que contemple as atuais necessidades e demandas dos povos amazônicos. Definir a grade curricular, os planos de aula, critérios para definição dos alunos e os sistemas de avaliação.

De acordo com o Toya Manchineri, assessor político da Coiab, o encontro foi muito produtivo e a retomada do CAFI é de extrema importância para a qualificação do das futuras lideranças nos temas sensíveis aos povos. “Estamos retomando um antigo sonho de qualificar os jovens no planejamento e gestão dos territórios indígenas, além de questões legais que envolvem os direitos e o Estado brasileiro”, explica o representante do povo Manchineri do Acre.

Quote: Toya Manchineri,

“Estamos retomando um antigo sonho de qualificar os jovens no planejamento e gestão dos territórios indígenas, além de questões legais que envolvem os direitos e o Estado brasileiro”

Representante do povo Manchineri do Acre.

Para o ex-aluno CAFI e liderança Galibi-Marworno do Amapá, Macksoara Nunes Narciso, o CAFI foi importante para a sua formação e contribuiu para que ele levasse benefícios à sua comunidade. “O CAFI contribui com a formação de lideranças jovens que vão ajudar os povos indígenas nas suas lutas. Nós queremos que o CAFI seja internacionalmente reconhecido porque é essencial que os indígenas tenham conhecimentos de leis, por exemplo, para trabalhar em prol de seu próprio povo”, relata.

Além de debaterem o novo formato a estruturação curricular do novo CAFI, as lideranças também discutiram os impactos de grandes empreendimentos como  hidrelétrica e de atividades como garimpo e pecuária, entre outras, na Amazônia e como a formação de lideranças por meio do Centro Amazônico pode fortalecer o posicionamento dos povos nessas questões que afetam direta ou indiretamente a conservação das terras indígenas e os modos de vida tradicionais. “Precisamos atuar de forma estratégica na defesa de nossos territórios e o CAFI é um espaço importante para trabalharmos esses temas e formamos lideranças representativas com vistas a cuidar melhor de nossas riquezas”, resume Enok, ex-aluno CAFI e liderança dos Taurepang em Roraima.

O coordenador de Fortalecimento Organizacional da Estratégia de Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais da TNC Brasil, Fernando Bittencourt, lembrou que os ex-alunos hoje exercem papeis importantes nas suas comunidades. “O CAFI é essencial para a formação das lideranças locais e regionais, responsáveis pela promoção da autonomia dos povos indígenas e no fomento da sustentabilidade de seus territórios. Retomar o centro vai permitir ampliar os conhecimentos essenciais na agenda dos povos. O CAFI já formou 113 alunos indígenas em gestão territorial e gestão de projetos e vários hoje são importantes lideranças nas suas comunidades”, conta. A TNC apoia a Coiab desde a criação do CAFI, por julgar que esta iniciativa fortalece a capacitação de indígenas para que possam exercer, com mais conhecimentos e autonomia a defesa de seus direitos e a gestão de seus territórios.