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Conservar, Preservar e Agir, os verbos capazes de nos salvar do colapso ambiental

Por Rodrigo Spuri, Diretor de Conservação Ambiental da TNC Brasil

Trincheira-Bacajá Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais não apenas vivem em harmonia com a natureza, eles a protegem. © Kevin Arnold

O meio ambiente desperta diferentes percepções nas pessoas. Há os que amam a natureza como um cenário: o pôr do sol, as praias, cachoeiras e montanhas. Em outro extremo, estão, por exemplo, povos indígenas e tradicionais, que percebem o meio ambiente como parte de si mesmos, algo enraizado em todas as esferas de suas vidas. Seja qual for a percepção, é necessário compreendermos que o equilíbrio ambiental afeta diretamente nossas vidas e precisamos mobilizar esforços para transformar os sistemas socioeconômicos atuais de forma a reverter as múltiplas crises causadas pela mudança no clima e perda de biodiversidade para que não cheguemos a um colapso.

Os sinais e alertas estão por toda a parte. Um estudo publicado pela Global Change Biology indica que o Brasil corre o risco de perder um quarto de seus recifes de corais, que são fundamentais para a manutenção de grande parte da vida marinha. Outra pesquisa, publicada na revista Nature, informa que a Amazônia, maior floresta tropical do mundo, pode chegar ao ponto de não-retorno em 2050, ou seja, uma situação em que perderá suas características de floresta tropical.

Dados científicos mostram também que o permafrost no Hemisfério Norte encolheu cerca de 7% nos últimos 50 anos. Esse degelo tem implicações significativas, já que com o descongelamento, quantidades exorbitantes de carbono e metano aprisionados podem ser liberadas na atmosfera. Vale citar também que em 2024, o planeta já ultrapassou o limite de 1,5°C de aquecimento global, ponto máximo estipulado pelo Acordo de Paris.

Diante desse cenário, é essencial compreender dois conceitos que, embora pareçam semelhantes, têm implicações distintas: conservação e preservação ambiental. Conservar significa utilizar os recursos naturais de forma responsável e racional, garantindo que eles continuem disponíveis para as futuras gerações. Já preservar é proteger integralmente certos ecossistemas, impedindo qualquer tipo de intervenção humana. Ambas as abordagens são necessárias e complementares. Em um país como o Brasil, que abriga uma das maiores biodiversidades do planeta, saber quando conservar e quando pode preservar ser a diferença entre o equilíbrio e a total destruição.

É possível reverter este cenário, mas já não há espaço para inação se quisermos, de fato, mudar essa realidade. A transição energética, e, consequentemente, o abandono do uso de combustíveis fósseis, por exemplo, é uma necessidade inadiável, e o Brasil tem uma oportunidade única de liderar esse processo. Com abundância de sol, vento e biomassa, o país pode construir uma matriz energética ainda mais sustentável e gerar, até 2030, 7,1 milhões de empregos verdes no setor de energias renováveis, colaborando com o combate das crises ambientais e com as desigualdades sociais. Mas, isso exige planejamento, investimento e, acima de tudo, vontade política.

Outro caminho essencial é a valorização da floresta em pé. A Amazônia não é um obstáculo ao desenvolvimento — ela é um ativo estratégico. O Brasil pode ganhar (e deixar de perder) bilhões de dólares com a sua manutenção, através de mercados de carbono, financiamento climático internacional, serviços ecossistêmicos, bioeconomia e turismo sustentável. Além disso, há ganhos indiretos, como segurança hídrica, energética e climática, que são fundamentais para a economia nacional e mundial.

E é justamente aí que entram os verdadeiros protagonistas da conservação ambiental: os Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais. Esses povos não apenas vivem em harmonia com a natureza — eles a protegem. Além de serem os responsáveis por moldar a Amazônia e outros biomas por meio de séculos de manejo sustentável, seus territórios são os mais bem preservados do país. Assim, seus conhecimentos ancestrais são fundamentais para enfrentar a crise climática. E sua luta por direitos, território e autonomia é também uma luta pela vida no planeta. Reconhecer e fortalecer o papel dessas comunidades é uma das formas mais eficazes de conservar a natureza.

A responsabilidade, no entanto, não é apenas deles. Empresas precisam adotar práticas de fato sustentáveis, indo além do marketing verde. Governos devem garantir políticas públicas robustas, fiscalização efetiva e justiça ambiental. E a sociedade civil, por meio de ONGs, movimentos sociais e cidadãos engajados, tem o poder de mobilizar, fiscalizar e propor soluções.

O futuro do planeta depende da nossa capacidade de agir juntos. Os alertas nos mostram que a crise climática não é um problema do amanhã — ela já está entre nós e precisamos de mudanças concretas. A resposta precisa ser coletiva, corajosa e imediata. Que todos os dias possam ser o início de um novo pacto pela vida, pela justiça e pelo planeta.

Publicado originalmente em Um Só Planeta
17 de junho de 2025
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