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O papel da restauração ecológica no mercado de carbono

Florestas são aliadas na mitigação das mudanças climáticas e possuem enorme potencial de geração de renda via créditos de carbono.

Homem segurando caixa com mudas de árvores para plantio.
RESTAURAÇÃO FLORESTAL Elias Cardoso, funcionárioi da Prefeitura de Extrema-MG, segura muda de árvores para plantio. © Felipe Fittipaldi

Quando falamos de soluções para a mitigação das mudanças climáticas, a floresta é a peça fundamental no sequestro e estocagem de carbono no Brasil, tendo em vista sua riqueza natural. Para se ter uma ideia, 66% do país é coberto com vegetação nativa.

Mas como é possível remover o carbono da atmosfera? Sabemos que há três grandes sumidouros de carbono no planeta: os oceanos, as áreas úmidas e os ecossistemas terrestres (incluindo aqui toda as formações vegetais), sendo que as florestas têm um papel essencial nesse processo. Estudo realizado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), da Universidade de São Paulo indica que, em média, 7 árvores conseguem retirar da atmosfera cerca de 1 tonelada de CO² nas suas duas primeiras décadas de vida.

Além de mostrar que as árvores representam uma enorme solução para mitigar as emissões de carbono e conter o avanço do efeito estufa e suas graves consequências no meio ambiente, elas possuem agora valor econômico a partir da conversão dessas emissões em créditos de carbono, o chamado mercado de carbono.

Apesar do grande potencial para frear o aquecimento do planeta, o desmatamento das florestas brasileiras vem crescendo a cada ano. Dados do MapBiomas demostram que o Brasil perdeu 1.655.782 hectares de cobertura de vegetação nativa em 2021. Um aumento de 20% na área desmatada em relação ao ano anterior. Na Mata Atlântica, 30,2 mil hectares foram desmatados.

Por outro lado, a restauração ecológica de áreas convertidas e abandonadas há anos apresenta grande potencial de redução ou remoção de gases de efeito estufa (GEE), e criando oportunidades para a geração de créditos de carbono.

As várias iniciativas de restauração florestal existentes no Brasil evidenciam que o país tem potencial de implementar e apoiar projetos que retiram GEE do ambiente e a chance real de emplacar no mercado de carbono.

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Diante de um cenário em que a mudança do clima é uma realidade e vem se intensificando é preciso analisar oportunidades para criar um ambiente favorável que atraia recursos a serem investidos nos projetos de restauração.

O mercado de carbono é uma das diferentes fontes de recursos possíveis para impulsionar a restauração florestal em larga escala, principalmente privados. Mas também é possível alavancar investimentos adicionais para a implementação da restauração e apoiar a sua manutenção a longo prazo a partir do seu potencial de geração de empregos e renda.

Nesse cenário, a The Nature Conservancy (TNC) Brasil tem trabalhado com o apoio do Programa Regenera América na Serra da Mantiqueira para dar escala à restauração florestal por meio do pagamento por serviços ambientais (PSA) e geração de créditos de carbono.

Em pouco menos de um ano, a iniciativa já firmou 33 contratos com proprietários rurais que, além de insumos necessários ao isolamento da área que se comprometeram a regenerar, recebem pagamentos por serviços ambientais, com a possibilidade de geração de carbono a partir da regeneração das áreas e de certificação para a compensação de carbono. Esses contratos somam 1.080 hectares.

O trabalho que a TNC desenvolve junto ao Programa de Conservação da Mantiqueira, na Mata Atlântica, foca na geração de incentivos para a criação de modelos em que a conservação ambiental e o crescimento socioeconômico possam coexistir, a partir da valorização da floresta conservada e em processo de restauração; de forma que possa também ser um projeto indutor do mercado de carbono na região.

Assim, diante de um cenário em que a mudança do clima é uma realidade e vem se intensificando, é preciso analisar essas oportunidades para criar um ambiente favorável que atraia recursos a serem investidos nos projetos de restauração florestal no país e estimule o desenvolvimento de novas iniciativas em maior escala.

A restauração florestal tem assumido o protagonismo como uma das opções mais eficazes e de melhor “custo-benefício” para atingir as metas e compromissos de sequestro de CO2 e, a partir disso, criar oportunidades para a geração de renda atrelada ao mercado de carbono. Um estudo inédito realizado com apoio de importantes instituições da agenda de restauração e a TNC Brasil mostra que o país pode gerar de 1 milhão a 2,5 milhões de postos de trabalho diretos com o processo de restauração de 12 milhões de hectares degradados até 2030. A maioria dos empregos existentes envolvem total ou parcialmente a Mata Atlântica (85%), pioneira em atividades de restauração no Brasil.

Olhando para esse panorama, podemos destacar que ações para conservar e restaurar as florestas assumem agora um papel importante e estratégico. Além do benefício para a conservação de paisagens, promovem benefícios com impacto direto às pessoas e à economia mundial.

Publicado originalmente em Um Só Planeta
05 de novembro de 2022
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