Segunda parte do 6º relatório do IPCC sobre mudanças climáticas detalha os impactos da emergência climática no mundo
Hoje, o Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (IPCC) – um dos órgãos científicos mais influentes e respeitados do mundo – publicou a edição condensada do “sumário para formuladores de políticas” da segunda parte do 6º Relatório de Avaliação (AR6).
Acompanhando o relatório do Grupo de Trabalho I (GTI) sobre a ciência física das mudanças climáticas, divulgado em agosto passado, o relatório AR6 do Grupo de Trabalho II (GTII) reúne descobertas de cientistas de 195 países para reformular as megatendências climáticas em termos de impactos, adaptação e vulnerabilidade de ecossistemas, sociedade, cidades, assentamentos, serviços, infraestrutura e indústrias.
Projetado para informar formuladores de políticas, nações, empresas e comunidades sobre como as mudanças climáticas causadas pelo homem já estão remodelando a vida na Terra, o GTII deixa clara a relação entre alcançar o progresso dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e o apoio à adaptação de comunidades locais. Também destaca a importância da justiça social e do conhecimento indígena na formulação de respostas a essa ameaça existencial.
Comentando a publicação do relatório do IPCC AR6 WGII, a professora Katharine Hayhoe, Cientista-Chefe da The Nature Conservancy, disse:
“Os relatórios do IPCC raramente proporcionam uma leitura confortável, e este último é o mais contundente até agora. Mas esse é o ponto: sem esse nível de síntese abrangente e rigorosamente revisada, como podemos esperar que nossos líderes entendam o que está em jogo e reajam com a urgência e a colaboração política apartidária necessárias para implementar as soluções imperativas?
A mudança climática é o maior multiplicador de ameaças. Pega quase tudo o que já sabemos estar errado com o mundo, desde fome, pobreza e falta de acesso a saneamento básico e saúde em países de baixa renda, até o tratamento a povos indígenas e injustiças raciais em países de alta renda, e torna ainda mais difícil de resolver.
A perda de biodiversidade, estresse na produtividade agrícola e riscos à saúde humana são temas destacados pelo GTII que não são novos, estamos rastreando a maioria deles há anos. O que está surgindo são as evidências indiscutíveis de como as mudanças climáticas contribuem para agravar esses desafios, em um ritmo que a humanidade está lutando para acompanhar, e como esses impactos geralmente atingem os mais vulneráveis primeiro.
Por outro lado, o GTII também deixa claro que agora não é o momento de abandonar as esperanças. A esperança não é a garantia de um futuro melhor: é o conhecimento de que nossas ações importam. E, hoje, elas importam mais do que nunca, desde como produzimos nossos alimentos e planejamos nossas cidades, até como protegemos nossos ecossistemas mais valiosos e trabalhamos para garantir os direitos dos povos indígenas e comunidades locais. O IPCC ressalta que há potencial para adaptar nossas economias e sociedades e torná-las mais resilientes a essas ameaças. Isso pode ser feito trabalhando em colaboração com a natureza, enquanto também nos esforçamos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
É crucial que tiremos essa mensagem do relatório. O que absolutamente não devemos fazer é permitir que essas descobertas alimentem uma sensação de fatalismo durante uma década tão decisiva. Como o IPCC concluiu no relatório 1.5C, “cada ano importa e cada escolha conta”. E, eu acrescentaria: toda ação positiva importa”.