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Finalmente, um Novo Acordo para o Alto-Mar

O tão aguardado tratado da ONU representa um marco em nossa relação com o alto-mar e agora requer ações urgentes dos países.

Cardume nadando no mar.
Yellowstripe Scad A huge school of yellowstripe scads in tight formation in the waters of Dampier Strait off the Raja Ampat Islands of Indonesia. The Coral Triangle contains 75 percent of all known coral species, shelters 40 percent of the world’s reef fish species and provides for 126 million people. © Jeff Yonover

Após mais de uma década de negociações, os governos reuniram-se no dia 4 de março em Nova Iorque e fecharam um histórico tratado das Nações Unidas sobre a conservação e o uso sustentável do alto-mar – aquelas vastas áreas de mar aberto que estão além das águas territoriais e que, juntas, cobrem quase metade da superfície da Terra. A formalização e a assinatura do texto do tratado devem ocorrer o mais breve possível.

O encerramento de duas rodadas de negociações de alto nível que estavam emperradas alcançou finalmente o acordo internacional acerca deste tão aguardado Tratado das Nações Unidas para o Alto-Mar e representa um momento único para definir a relação da humanidade com os oceanos.

Um dos aspectos mais significativos do novo tratado é o modo como ele permitirá que os países criem novas Áreas Marinhas Protegidas (MPAs na sigla em inglês) nas águas internacionais, um passo crucial para ajudar os líderes mundiais a cumprirem a meta de proteção global 30x30 definida na Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica em dezembro passado. 

Outro elemento importante do Tratado é sua intenção de modernizar as avaliações de impacto ambiental (EIAs na sigla em inglês) aprimorando padrões e imprimindo mais consistência à maneira como os países medem e gerenciam o impacto das atividades humanas nas águas internacionais. 

Apesar desses aspectos positivos, o novo acordo ainda requer melhorias significativas. Em especial, os países concordaram que aqueles órgãos que já são responsáveis por regular atividades humanas como pesca, navegação ou mineração em alto-mar podem, por enquanto, continuar a fazê-lo sem ter que seguir os padrões de impacto ambiental estabelecidos no tratado. No entanto, com o tempo, os novos requisitos de avaliação do impacto ambiental do tratado também ajudarão a reformular e fortalecer a gestão dessas atividades. 

Foram também incluídas cláusulas que permitem que, em certas circunstâncias, os países signatários rejeitem as MPAs estabelecidas no acordo. 

Diante da deterioração da saúde dos oceanos e do constante fracasso dos atuais sistemas no enfrentamento do problema, essas exceções representam uma importante brecha. 

Ao comentar sobre o resultado das reuniões de Nova Iorque, o líder de política para os oceanos da The Nature Conservancy, Andreas Hansen, disse:  

“O novo Tratado do Alto-Mar representa um acontecimento notável. Os oceanos não têm tempo a perder, portanto, os países devem adotar e ratificar rapidamente o tratado e usar suas competências para transformar palavras em benefícios para os oceanos. 

“Os países também devem exercer sua influência para aumentar o empenho daqueles órgãos que já detêm a responsabilidade de administrar aspectos críticos da atividade humana, como a pesca, com relação ao alto-mar. Não fazer nada significa manter um sistema que demonstrou ser ineficaz para solucionar os problemas complexos das águas internacionais atualmente. "

“Estamos, portanto, conclamando os países membros dessas organizações a assumirem a responsabilidade e alinhar suas ações à escala da crise ecológica, mas também às suas obrigações internacionais relacionadas ao Acordo de Paris e ao Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal."

“Um status quo pernicioso está conduzindo as crises climática e de biodiversidade que afetam o nosso mundo. Com o novo Tratado do Alto-Mar e outras importantes estruturas de políticas das Nações Unidas, os países têm agora a oportunidade de inovar seus procedimentos e ingressar em uma nova era positiva para a natureza no relacionamento entre os seres humanos e os oceanos, que represente nosso sistema coletivo de apoio à vida.”