Cacau Floresta

Cacau Floresta: há 10 anos restaurando áreas degradadas junto a pequenos produtores do Pará

Mais de 600 famílias em uma das regiões mais afetadas pelo desmatamento e provou que é possível restaurar áreas na Amazônia com agroflorestas

Plantação de Cacau em São Félix do Xingu
Cacau Floresta Há 10 anos restaurando áreas degradas junto a pequenos produtores do Pará © Kevin Arnold

A região sudeste do Pará é uma das mais ameaçadas pelo desmatamento. No município de São Félix do Xingu, que hoje é o maior produtor de gado de corte do Brasil, cerca de 40% do desmatamento  está associado à agricultura familiar.

É comum que pequenos produtores na Amazônia comprometam a saúde de suas terras investindo em um modelo de pecuária de baixa tecnologia, ou seja, na criação de gado sem cuidados de manejo que, com o tempo, acabam degradando suas terras e as deixando improdutivas. De cada dez hectares de florestas derrubados na Amazônia, seis viram pastagens, três são abandonados e um é convertido para agricultura. O  principal vetor do desmatamento na Amazônia brasileira é a pecuária extensiva, presente na grande maioria das pequenas rurais.  Sem o conhecimento adequado, as pastagens degradam o solo, demandam novas áreas de florestas e comprometem a produtividade e geração de renda dos agricultores. Esse cenário leva a um processo contínuo de desmatamento e de degradação.

No entanto, há 10 anos na região, o projeto Cacau Floresta tem provado que o cultivo de cacau em sistemas agroflorestais é uma estratégia eficaz para recuperar essas áreas, gerar renda aos produtores rurais e, assim, combater o desmatamento ao romper com esse ciclo.

Com a participação de mais de 600 famílias dos municípios de São Félix do Xingu, Tucumã,Altamira, Vitória do Xingu, Brasil Novo, Medicilândia, Anapu e Pacajá, o projeto Cacau Floresta restaurou mais de 1.000 hectares  com técnicas de restauração ecológica (enriquecimento com sementes e mudas, condução da regeneração natural das florestas e muvuca (plantio de diversas sementes), implementou  mais de 2.000 hectares de sistemas agroflorestais (SAF) com cacau, uma espécie nativa da Amazônia e com alto valor de mercado. A renda associada ao cultivo de cacau tem se mostrado superior ao retorno financeiro da pecuária e pode ainda ser associada a outros cultivos, como milho, mandioca, açaí, andiroba etc., contribuindo não apenas para a renda, mas também para a segurança alimentar da família.

Os produtores do projeto receberam, em média, a cada ano, três visitas de assistência técnica e extensão rural (ATER) e quatro capacitações coletivas. Foram mais de duas toneladas de cacau produzidas pelos agricultores do projeto.

No projeto, a TNC e parceiros estratégicos como a Coordenada Rural, prestam assistência técnica às famílias e cooperativas de agricultores para ensinar a implementar SAFs e ampliar as capacidades de gestão dos produtores e produtores rurais. Além disso, o projeto oferece auxílio para a incorporação de um manejo mais ecológico, reduzindo o uso de adubos e defensivos químicos, minimizando o risco de contaminação da saúde dos agricultores e dos solos e águas locais. Algumas propriedades possuem também planos de transição para produção orgânica de cacau, onde foram ministrados treinamentos aos produtores do projeto sobre agroecologia.

“Quando começamos este projeto, havia pouca assistência técnica local relativa à restauração de áreas degradadas via sistemas agroflorestais e durante estes 10 anos um dos legados foi justamente o de desenvolver serviços de assistência técnica locais para essa temática”, afirmou Rodrigo Freire, Líder de Áreas Privadas para a Amazônia na The Nature Conservancy (TNC) Brasil.

“A TNC foi pioneira ao inovar no plantio de cacau em sistemas agroflorestais sobre áreas degradas. Hoje, está provado que a restauração por agroflorestas é possível para a Amazônia e várias organizações se inspiram no projeto para criar programas de incentivo à restauração no bioma. O projeto influenciou também uma das normativas do Código Florestal que permite que pequenos produtores de até 4 módulos fiscais restaurem suas áreas com sistemas agroflorestais”, comenta Freire.

O projeto Cacau Floresta agregou diversos parceiros ao longo da sua trajetória e, em 2019, consolidou uma plataforma que reúne todos os atores da cadeia, desde o campo até a fábrica de chocolate, com parceiros como OFi - Olam Food and Ingredients e Mondelez.

Quote: Rodrigo Freire

Durante estes 10 anos um dos legados foi desenvolver serviços de assistência técnica locais para restauração de áreas degradadas via sistemas agroflorestais

Líder de áreas privadas da Amazonia Brasileira

Vidas transformadas pelo cacau

Após perceber o valor da floresta em pé, os produtores se sentem mais atraídos a buscar a regularização ambiental de suas propriedades. Por isso, o projeto já ofereceu apoio a mais de 310 famílias com diagnósticos ambientais e para elaboração dos Projetos de Recuperação de Área Degradada e Alterada (PRADA). Além da adequação à lei, a TNC tem buscado facilitar o acesso ao crédito rural e conseguiu aprovar mais de 38 projetos destinados a SAF e restauração florestal, totalizando mais de R$ 1.9 milhões em investimento e custeio e 77 propostas sendo avaliadas.

Mas, para além, desses números, o Cacau Floresta tem transformado a relação dessas famílias com a terra. Cada parceiro possui uma história única e inspiradora, que ensina a todos nós o real valor de uma floresta em pé. Confira algumas delas:

Rosely Dias Rosely Dias, agricultora da região do Xadá, na Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu, uma das Unidades de Conservação mais ameaçadas do Brasil, conta como a agrofloresta mudou sua vida e de sua família.
Wesley Moreira Wesley Matos Moreira, agricultor de Tucumã, celebra a natureza ressurgindo em sua propriedade e espera que a recuperação ambiental pela agrofloresta de cacau possa se multiplicar.
Isaías Borges A agroflorestal é liberdade e independência para o produtor rural, segundo José Isaías Borges, produtor rural do Assentamento Roseli Nunes, em Tucumã. Ele conta como o trabalho dele ajuda a conservar o planeta.
Valcilene Primo Para Valcilene dos Santos Primo, agricultora de São Félix do Xingu, os produtores de cacau do projeto são um espelho para outros agricultores da região.
Casa familiar Rural O futuro está nas mãos dos jovens. Por isso, a TNC tem como parceiro a Casa Familiar Rural, projeto pedagógico que, além da formação tradicional, traz para os filhos dos agricultores o conhecimento da agroecologia, ajudando a formar uma nova geração de produtores rurais.

Mulheres da Agrofloresta

Ao longo dos 10 anos do Cacau Floresta, foi cada vez mais nítida a importância de atuar pelo fortalecimento das mulheres na agricultura familiar. 

Uma propriedade rural, em geral, é marcada por áreas diferentes de produção: a roça, a horta, o jardim, o pomar, além da criação de animais, como gado, suínos e as aves. Mas, além disso, ela reúne também a casa e a família, diferentes gerações e relações de gênero. 

Geralmente, a casa é responsabilidade das mulheres no campo., assim como tudo que está mais próximo a ela, como os pequenos animais, o jardim, as hortas, pomares em geral para o beneficiamento da mandioca e frutas. Esse é o chamado quintal produtivo, que cuja produção abastece a família, é trocado com vizinhanças e representa também um importante componente da economia familiar. 

Tradicionalmente, os homens ocupam mais os espaços das roças, e dos SAFs  e pastos, mas muitas mulheres já se envolvem diariamente em atividades da agrofloresta, como a escolha das espécies, o plantio, a poda e, a colheita.

No Cacau Floresta, temos o prazer de contar com lideranças mulheres incríveis, como a Rosely Dias e a Valcilene dos Santos Primo (depoimentos acima). Nos últimos anos, temos escutado das mulheres no campo seus desejos por aprender e participar mais. Por isso, a TNC e seus parceiros realizaram uma série de cursos de gestão de propriedade, de organização social, como associações e cooperativas, dos sistemas agroflorestais e de produção de alimentos voltados para essas mulheres. 

Elaboramos a coletânea de cartilhas sobre “Mulheres, Agrofloresta e Segurança Alimentar” que busca dialogar com as mulheres considerando o papel econômico dos espaços em que atuam, assim como fortalecer sua presença nos SAFs. Na primeira cartilha dessa coletânea, falamos sobre as hortas, a importância desse cultivo para a segurança alimentar e nutricional das famílias. 

A segunda cartilha faz uma introdução ao tema das agroflorestas e algumas das espécies para esses sistemas, como os pés de cacau.  A terceira cartilha traz a história e benefícios do cacau além de receitas especiais com o fruto dos parceiros do projeto , Dona Nena e De Mendes. 

A quarta e última cartilha da coletânea é um guia de orientação para que técnicos e técnicas de assistência rural possam incluir questões de gênero em seu trabalho cotidiano. 

O conteúdo das cartilhas é tema também de uma série de 6 podcasts disponível aqui

Podcasts

Episódio 1: Conhecendo nossas hortas 

Ouça o episódio 1 completo aqui

Episódio 2: Cuidando de nossas hortas 

Ouça o episódio 2 completo aqui

Episódio 3: Por que plantamos agroflorestas? 

Ouça o episódio 3 completo aqui

Episódio 4: Como o cacaueiro gosta de viver? 

Ouça o episódio 4 completo aqui

Episódio 5: Como se planeja uma agrofloresta? – Parte 1 

Ouça o episódio 5 completo aqui

Episódio 6: Como se planeja uma agrofloresta? – Parte 2

Ouça o episódio 6 completo aqui

E produzimos também um jornal especial sobre as “Mulheres Rurais no Sudeste do Pará”.

As mulheres do campo disseram também que gostariam de pensar na produção coletiva e associada e esse pedido nos inspirou a construir a cartilha “Mulheres rurais e empreendedorismo: Associativismo e cooperativismo na produção do bem viver” que tem seu conteúdo explicado em três vídeos

Episódio 1: Associativismo 

Episódio 2: Cooperativismo

Episódio 3: Marketing

 

“Construir esse olhar dos projetos que temos no campo para a agenda do gênero é um longo processo. É necessário entender que precisamos aprender sempre e buscar compreender melhor as questões que nos cercam e que parecem “naturais”. Levantar essa pauta é uma provocação para estarmos mais atentas e atentos às desigualdades de gênero e a conceitos, valores e práticas que reforçam essas desigualdades”, afirma Mônica Vilaça, Cientista Social TNC Brasil.

Mulheres do campo
Produção do bem viver Mulheres do campo © Denys Costa

Parceiros do projeto

O Cacau Floresta tem transformado a relação dessas famílias com a terra. Cada parceiro possui uma história única e inspiradora, que ensina a todos nós o real valor de uma floresta em pé. Confira algumas delas:


Além dos produtores rurais, protagonistas na restauração a partir do SAF de cacau, a TNC contou com diversos parceiros ao longo desses anos que ajudaram a viabilizar o projeto. Confira os parceiros implementadores:

·       Banco da Amazônia

·       Extreme E

·       GIZ

·       Instituto Humanize

·       Mondelez

·       OFi - Olam Food and Ingredients

·       Partnerships for Forests (P4F)

·       Nutrien

·       Engie


Confira os parceiros locais:

·       Campax

·       Ceplac

·       Coopertuc

·       Coordenada Rural

·       Embrapa

·       Governo do Pará

·       Prefeitura de São Félix do Xingu

·       Prefeitura de Tucumã

·       Prefeitura de Altamira

Nova fase do Cacau Floresta: dar escala aos aprendizados

Desde março de 2023, a TNC encerrou as atividades de assistência técnica em campo do Projeto Cacau Floresta, o que incluiu o relacionamento direto com o produtor rural. Os demais parceiros, como empresas processamento de cacau, algumas cooperativas, associações e empresas privadas de assistência técnica, continuarão com ações de apoio aos produtores, como a iniciativa Cocoa Life, da Mondelez e da OFi - Olam Food and Ingredients. Estas empresas entrarão em contato par verificar o interesse de cada produtor em manter a assistência técnica.

Durante os 10 anos de atuação do Cacau Floresta, foi construído um importante legado de organizações capazes de prestar assistência aos produtores rurais. Com isso, a TNC irá, a partir de agora, buscar outras formas de acelerar a restauração com agroflorestas de cacau na Amazônia e dar escala à transformação que precisamos no bioma.

Iremos focar em influenciar políticas públicas e práticas empresariais. Vamos trabalhar com os governos (estadual e municipal) para que exista mais apoio e incentivo à restauração por agroflorestas de cacau. Vamos também engajar empresas para que o investimento nesse tema seja uma prática amplamente adotada no mercado.  

Além disso, vamos também trabalhar no fortalecimento de cooperativas e associações de produtores ruais, para viabilizar plano de negócios com beneficiamento dos produtos em suas regiões.

Agradecemos imensamente as mais de 600 famílias parceiras ao longo dessa jornada e reforçamos o nosso compromisso de seguir juntos na busca de caminhos para que pessoas e natureza prosperem juntos!

 

Contatos

Para saber mais sobre o projeto da TNC na região chamado “Acelerador de Restauração e Agroflorestas”, escreva para: acelerador@tnc.org

Para saber mais sobre a assistência técnica que será promovida pelas empresas na região do Sudeste do Pará, procure o Mattheus Costa, da OFi - Olam Food and Ingredients: +55 93 9162-4879.

 

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