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Estudo inédito reforça a importância da restauração de mananciais para a segurança hídrica

"Reservatório Invisível" mostra o impacto econômico e biológico da restauração na disponibilidade de água do Sistema Cantareira, em São Paulo.

Imagem aérea da Represa Jaguari, parte do Sistema Cantareira, em Joanópolis-SP.
JAGUARI 2007 Área de captação de água na Represa do Jaguari, em Joanópolis-SP, no ano de 2007. © Scott Warren

O Reservatório Invísível

Acesse o estudo que analisa como as soluções baseadas na natureza ajudam a garantir água.

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Seja por secas ou inundações, a mudança climática geralmente se expressa de forma mais visível por meio da água, e esses impactos só deverão aumentar nos próximos anos. A boa notícia é que o investimento na natureza representa um caminho claro para a proteção e restauração dos sistemas de água doce dos quais a natureza e as pessoas dependem.

Com realização da The Nature Conservancy e lançado no dia 22 de março, Dia da Água, durante a Conferência de Água da Organização das Nações Unidas, o estudo “O Reservatório Invisível” analisou o impacto das Soluções baseadas na Natureza (SbN), como a restauração, por exemplo, na disponibilidade de água e na adaptação climática. Foram analisados três cenários diferentes e os resultados obtidos foram similares e consistentes em todos eles.

Segundo o Especialista em Políticas Públicas para Água da TNC Brasil e coordenador do estudo, Claudio Klemz, foram analisadas as características biofísicas do Cantareira nos últimos 30 anos e chegou-se à conclusão de que a o Sistema Cantareira teria mais água disponível, se as intervenções necessárias de infraestrutura verde tivessem sido realizadas.

Em um cenário ideal, com intervenções em pontos-chave das bacias hidrográficas e mananciais que compõem o Sistema, o reservatório invisível de águas subterrâneas do Cantareira teria 33% a mais de água em 2018 e durante a pior seca das últimas décadas, nos anos de 2014 e 2015, esse incremento poderia chegar 130%.

“Embora esses dados não possam ser projetados para o futuro, eles nos mostram o caminho para resolver um dos grandes desafios do século: a disponibilidade hídrica em quantidade e qualidade suficiente para atender as atuais e futuras gerações em seus diversos usos m uma realidade de rápida conversão de áreas naturais e mudanças nos padrões climáticos”, avalia Claudio.

O especialista explica que investir em infraestrutura verde, em Soluções baseadas na Natureza (SbN), tem se mostrado uma alternativa fundamental tanto na segurança hídrica, quanto na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.

Quote: Bruna Ciasca

Se o investimento em restauração tivesse ocorrido, 28% do custo da crise hídrica de 2014 e 2015 teria sido evitado.

Economista da TNC Brasil

Além dos benefícios ambientais, essas soluções também têm impacto financeiro, pois os custos da intervenção e da restauração são menores do que o da inação, como pontuado pelo economista inglês Nicholas Stern que, usando os resultados de modelos econômicos formais, mostrou que os custos e riscos gerais das mudanças climáticas serão equivalentes à perda de pelo menos 5% do PIB global a cada ano, podendo subir para 20% do PIB ou mais caso nada seja feito para frear as mudanças.

“Nosso estudo apresentou os benefícios econômicos do investimento em restauração e chegamos a resultados que vão da ordem de R$144 milhões, se considerado apenas o ganho hidrológico, a R$ 632 milhões se adicionarmos o co-benefício do sequestro de carbono. Para se chegar a esses valores, tomamos como referência o custo da crise hídrica ocorrida em 2014-2015 estimado em R$1,6 bilhão. Se o investimento em restauração tivesse ocorrido, 28% do custo da crise hídrica teria sido evitado”, explica Bruna Ciasca, economista do time de Ciências da TNC Brasil.

Sobre os autores

Se Jong Cho – Pos-Doutoranda – The National Socio-Environmental Synthesis Center/University of Maryland
Eileen Andrea Porras Acosta – Especialista em Água Doce – TNC Brasil
Claudio Klemz – Especialista em Políticas para Água – TNC Brasil
Justus Raepple – Especialista em Finanças – TNC Global
Bruna Stein Ciasca – Economista – TNC Brasil
Samuel Roiphe Barreto – Gerente do Programa de Água Doce – TNC Brasil
Henrique Bracale – Coordenador do Fundo de Água de São Paulo – TNC Brasil