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Mulheres e conservação de ecossistemas estratégicos na América Latina

Mulheres Xikrin Mulheres Xikrin colhendo mamão e banana perto de Pot-Kro, Brasil. © Kevin Arnold

Estudos científicos demonstram que as mudanças climáticas causam maior impacto às mulheres e meninas, sobretudo àquelas que são Indígenas, Afrodescendentes e agricultoras. Na América Latina e no Caribe, cada vez mais mulheres, com diferentes funções e experiências, se envolvem e lideram os esforços de conservação que buscam transformar seu futuro e preservar o planeta para as futuras gerações. 

ConservAção

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A The Nature Conservancy (TNC) trabalha com afinco por um futuro mais igualitário que acolha e promova as mulheres e o grupos menos representados. Nosso trabalho em campo demonstra que a intervenção e presença de mulheres na conservação, desde a criação de políticas públicas, produção científica ou em comunidades locais, traz resultados mais positivos e duradouros para a natureza e as pessoas.

Ações eficientes são essenciais para enfrentar a dupla crise das mudanças climáticas e da perda da biodiversidade e proteger as pessoas e a natureza, desenvolvendo novos enfoques e ideias para abordar alguns dos problemas globais que enfrentamos. Por eles, precisamos agir para que ninguém fique para trás.

Essa tarefa não é fácil: a representatividade feminina em eventos como as COPs ainda é limitada—somente 34% dos delegados das partes da COP28 eram mulheres—e a participação concreta avança lentamente, mas estamos diante de uma janela de oportunidade.  O Programa de trabajo de Lima sobre el género, promovido nas COPs, será revisado até junho de 2024. Em 2025, os países precisam fazer a atualização quinquenal de sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC em sua sigla em inglês). Na rodada inicial desses compromissos em 2015, somente 49 países incluíram considerações de igualdade de gênero comparados aos 97 que as incluíram na revisão seguinte (fonte: PNUD).

Nesse espaço, queremos reconhecer um grupo de mulheres que com seu trabalho estão abrindo o caminho para que gerações futuras possam dedicar seu tempo, sem medo, a favor da conservação de nossos ecossistemas naturais.  

Un grupo de mujeres Huitoto y Koreguaje demuestran el funcionamiento de la Chagra en El Quince
Colômbia Um grupo de mulheres Huitoto e Koreguaje demonstra o funcionamento dos sistemas agrícolas (Chagras) em El Quince © Juan Gomez Gutierrez

Conheça as histórias das protagonistas da conservação na região

México

No México, mais de 14 milhões de mulheres vivem em municípios rurais e cerca de um milhão trabalha na agricultura, pecuária, pesca e outras atividades relacionadas ao campo. Apesar de suas grandes contribuições para o desenvolvimento agropecuário e alimentar do México, as barreiras estruturais geram uma desigualdade de oportunidades significativa quando as mulheres rurais não são donas da terra, não são remuneradas por seu trabalho e suas ideias e opiniões sobre seus territórios não são levadas em conta, limitando sua autonomia econômica, seu acesso a mercados e financiamento para desenvolver suas atividades de produção.  

A TNC, por meio de seu projeto Comunidades Prósperas e Sustentáveis (CPS), realiza suas atividades com uma abordagem de gênero e inclusão social integral. O objetivo é que as mulheres tenham uma participação real por meio de diretrizes e estratégias nas convocatórias e atividades para fortalecer suas competências, seu acesso a mercados e financiamento, além da implementação de intercâmbios de experiências para gerar redes de sororidade e fortalecimento. Nesses intercâmbios, as mulheres contam com um espaço seguro que fortalece sua liderança e promove a colaboração em rede, o que desencadeia sua autoconfiança, o desenvolvimento de suas atividades de produção e abre as portas a apoios mútuos.

Por exemplo, na Sierra Madre de Chiapas, reunimos um grupo de criadoras de gado e de café para conhecer suas experiências. Idubilia Díaz, produtora de amendoim e figos-da-Índia, transmite o sentimento de muitas mulheres: “Somos fortes, mas sim precisamos de apoio, para que tenhamos acesso a mais fontes de informação, para que possamos levar nossas experiências e compartilhá-las”. Eunice de la Cruz, criadora de gado, acrescenta: “Esse conhecimento me enriquece muito e me permite fazer uma pecuária regenerativa e sustentável para cuidar do planeta”.

Saiba mais sobre as mulheres agricultoras e criadoras de gado da Sierra Madre de Chiapas no vídeo a seguir:

Mulheres rurais Agentes-chave do desenvolvimento sustentável

Guatemala

Antonia Xuruc é de Totonicapán, município do planalto guatemalteco, onde vivem mais de quatro milhões de pessoas distribuídas em pequenas comunidades que raramente passam dos mil habitantes. Ali ela é a coordenadora técnica de projetos do sistema ambiental comunitário da Associação CDRO, Associação de Cooperação para o Desenvolvimento Rural do Ocidente, cujo objetivo é impulsionar o desenvolvimento integral das comunidades locais e a formação de lideranças, vinculados especialmente a organizações e iniciativas de origem Maya. O CDRO tem trabalhado com a TNC em diferentes projetos nos últimos anos, como o “Plant a Billion Trees” e o programa de fortalecimento dos pequenos produtores agrícolas após a COVID.

Antonia tem autorização para compartilhar uma visão que caracteriza os habitantes da região, herdeiros de uma rica tradição ancestral no desenvolvimento de práticas agrícolas que procuram preservar a qualidade de seus solos e recursos hídricos.

“A participação da mulher na gestão dos recursos naturais é fundamental porque existe um vínculo estreito com todos os serviços ecossistêmicos”, explica Antonia. “A mulher é quem faz uso do sagrado líquido, a água, desde que se levanta até quando se deita, para poder fazer suas atividades e cuidar de sua família. Nós mulheres temos um vínculo constante com os elementos da floresta e isso significa que temos que fazer parte dos processos de conservação. Somos nós, as mulheres, que orientamos nossas famílias na utilização da água porque sabemos o valor que ela tem. Nós acreditamos que a mulher e a água têm uma relação porque há um sentimento que nos une, que a água tem vida, que o bosque tem vida e que nós temos que dar o valor correspondente aos benefícios que recebemos destes elementos naturais”.  

Coordenadora técnica de projetos do sistema ambiental comunitário da Asociação CDRO
Antonia Xuruc Coordenadora técnica de projetos do sistema ambiental comunitário da Asociação CDRO © TNC

Perú

Rosa Liliana García García é chefe do Santuário Nacional Los Manglares de Tumbes, uma importante área natural protegida onde a TNC Peru desenvolve projetos de conservação, localizada na costa norte do Peru. Começou sua carreira aos 20 anos como guarda-parque voluntária do Serviço de Áreas Naturais Protegidas pelo Estado (SERNANP) no Parque Nacional Cerros de Amotape, localizado nas regiões de Tumbes e Piura.

O que a levou a escolher esse caminho? Rosa, formada em engenharia florestal e meio ambiente sabia que ingressar em um programa de guarda-parques voluntários do SERNANP coincidia com sua paixão pela conservação. “Quando comecei, nasceu em mim um amor profundo pela natureza e meu desejo de interagir e conservar espécies únicas em nossa região”, comenta.

Por esse comprometimento com seu trabalho, em poucos anos, Rosa foi promovida à especialista no Santuário Nacional Los Manglares de Tumbes. E, oito anos depois, teve a oportunidade de se tornar chefe da área protegida, que tem a maior extensão de manguezais do Peru e abriga um ecossistema único que une os rios às águas marinhas.

Como fazer carreira em uma área tradicionalmente liderada por homens? Rosa comenta: ”Entre nós, as guarda-parques, ainda escutamos comentários machistas, há quem acredite que as mulheres não são capazes de enfrentar as adversidades que se apresentam pelo caminho”. Porém, ela vê suas tarefas como complementárias já que os homens podem ser mais fortes fisicamente, mas as mulheres também oferecem boas soluções para resolver situações complicadas. “Nos encaixamos perfeitamente para realizar um trabalho em conjunto”, acrescenta.

Rosa acredita que tanto em seu campo de trabalho como em outros espaços é importante que as mulheres expressem suas opiniões e aproveitem as oportunidades para se destacar. “Hoje as mulheres participam de muitos grupos e temos a oportunidade de tomar decisões importante”, conclui.

Saiba mais sobre a importância de Rosa García no vídeo a seguir. 

Mulheres promovendo a conservação na América Latin Rosa García, guarda-parque no Peru

Chile

Florencia Vial é bióloga marinha com mestrado em recursos naturais. Ela é a mais jovem integrante da equipe de Oceanos da TNC Chile. Nessa função, ela tem promovido um trabalho a partir da perspectiva de gênero em um setor geralmente visto como masculino, como é o caso da pesca artesanal. Foi assim que surgiu o “Programa de Empoderamento Feminino para mulheres da pesca artesanal e atividades associadas” que a TNC Chile, em colaboração com a Fundação Somos Tribu, desenvolve na região de Los Ríos. Este programa também conta com o apoio de instituições governamentais como o Ministério de Economia, Desenvolvimento e Turismo, o Ministério da Mulher e Equidade de Gênero, SERNAPESCA e SUBPESCA.

“O programa tem sido uma iniciativa bem valiosa e necessária para a vida das mulheres da pesca. Por meio de oficinas mensais em três diferentes territórios da região, com uma metodologia circular, troca de conhecimentos e uma abordagem participativa, foi possível reduzir lacunas que as mulheres consideravam importantes, gerando espaços de diálogo com as autoridades, possíveis ações intercomunitárias e o fortalecimento da associação em cada território. Além disso, o trabalho promove novas lideranças e dá visibilidade às funções femininas no setor”, explica Florencia.

Essa experiência também tem sido enriquecedora pessoalmente: “Para mim, este trabalho tem sido muito gratificante. O desafio era conseguir uma participação importante nas oficinas e gerar a adesão de mulheres ao programa, o que foi mais do que alcançado. Descobrimos que há necessidade para que este tipo de iniciativa ocorra no setor da pesca artesanal e que a abordagem de gênero comece a tomar relevância dentro das comunidades pesqueiras para que todos possam trabalhar com dignidade e justiça. Tenho aprendido muito com as mulheres que participam do programa e mais do que um desafio de trabalho, as oficinas se tornaram uma experiência enriquecedora e emocionante”.

Saiba mais sobre esta iniciativa de empoderamento feminino nesse vídeo, que é parte de um registro feito durante o primeiro Encontro das Mulheres da Pesca Artesanal e Atividades Associadas da região de Los Ríos. 

Mulheres promovendo a conservação na América Latin Florencia Vial, TNC Chile

Equador

Alexandra Narváez Comunidade A´i Cofán Sinangoe, Equador.

Alexandra Narváez é uma jovem líder Indígena da comunidade A'i Cofán de Sinangoe na província de Sucumbíos, Equador. Seu profundo senso de responsabilidade para com a proteção de sua cultura e seu território ancestral norteia o movimento Indígena que defende seu território ancestral Confán da mineração e outras ameaças. Sua liderança conseguiu uma vitória judicial histórica em outubro de 2018 quando as cortes do Equador cancelaram 20 concessões ativas de mineradoras e 32 ainda em processo que foram concedidas de forma ilegal sem o consentimento da comunidade Cofán. Mas essa conquista foi somente o começo, pois sua comunidade tem conseguido uma série de vitórias, como a proteção de 32 mil hectares de floresta (uma área do tamanho do país de Malta) e mais recentemente, trabalhou com a TNC para estabelecer a Área de Proteção Hídrica (APH) de Aguarico, Chingual e Cofanes, a maior do país.

Alexandra cresceu em sua comunidade reconhecendo que seu papel seria o de defender os direitos das mulheres e de seu território, dando voz aos que não têm voz. Em 2017, junto com outros membros de sua comunidade, Alexandra formou uma patrulha florestal chamada La Guardia com o objetivo de monitorar e interromper atividades ilegais em seu território ancestral. Além de ter sido nomeada presidente da associação de mulheres Indígenas de Sinangoe Shamec’co, seu compromisso e trabalho na luta pela justiça ambiental e os direitos Indígenas no Equador fizeram com que recebesse o prêmio Goldman Environmental Prize de 2022.  

Apesar dos desafios que sua comunidade enfrenta, Alexandra dedica sua vida à defesa da terra, da cultura e dos direitos de seu povo. Seu trabalho tem sido fundamental para a proteção das florestas e da biodiversidade da região, assim como para o desenvolvimento de práticas sustentáveis e da defesa dos direitos Indígenas. 

Brasil

A “Farmácia Verde” que deu voz às mulheres brasileiras na conservação

O Brasil é a casa de muitas plantas medicinais nativas que proporcionam alívio não-farmacêutico para a população local. Mas essas plantas também têm outro papel importante: Elas dão às mulheres Indígenas uma voz na conservação.

As mulheres Indígenas são as detentoras tradicionais do conhecimento sobre as plantas medicinais e as produtoras exclusivas de suas ervas e óleos. Porém, historicamente, têm baixa representatividade nos cargos de liderança e nas tomadas de decisão.

Em 2019, a situação começou a mudar com o apoio da analista da TNC Rafaela Carvalho. As mulheres da região brasileira do Oiapoque fundaram uma Farmácia Verde. É lá que Rafaela se reúne com elas para ajudá-las na troca de suas plantas medicinais e discutir estratégias para combater as mudanças climáticas e fortalecer a conservação e a liderança Indígena. No ano passado, as mulheres do Oiapoque publicaram um livro por meio do projeto Farmácia Verde. Rafaela também trabalha para influenciar as políticas públicas relacionadas ao clima e à equidade de gênero na região e para aumentar a presença de mulheres do Oiapoque nos conselhos organizacionais. Essas ações resultaram em um maior acesso a papéis de tomada de decisões e mais oportunidades econômicas. Na verdade, algumas mulheres agora se identificam como as únicas provedoras do rendimento familiar. 

Quote: Rafaela Carvalho

Quando falamos de conservação, devemos incluir as Terras Indígenas porque elas são as principais protetoras da biodiversidade. As mulheres Indígenas são figuras proeminentes nas atividades de conservação.

Analista, Povos Indígenas e Comunidades Locais, TNC Brasil
Green Pharmacy
Mulheres indígenas da região do Oiapoque no Brasil trocam plantas medicinais © Associação de Mulheres Indígenas em Mutirão
Indigenous leaders
MULHERES E LIDERANÇA As mulheres Indígenas desempenham uma função fundamental nas atividades de conservação da região do Oiapoque no Brasil. © Associação de Mulheres Indígenas em Mutirão
Mulheres indígenas da região do Oiapoque no Brasil trocam plantas medicinais © Associação de Mulheres Indígenas em Mutirão
MULHERES E LIDERANÇA As mulheres Indígenas desempenham uma função fundamental nas atividades de conservação da região do Oiapoque no Brasil. © Associação de Mulheres Indígenas em Mutirão